Eu tenho terapia duas vezes por semana. Uma delas é terça feira [hoje], às 15:45. Quando voltava de um forte embate com a senhora Carmem [linda ela, lindo nome] e seu querido Freud [não é sarcasmo] sobre minhas percepções momentâneas de sexualidade e vida, propriamente falando, discutindo aspectos de repúdia [ou qualquer outro nome pomposo à aversão] que se dá involuntariamente por esta pessoa que aqui vos redige, é que decidi entrar numa lojinha [?], que
é tipo um centro espiritual, que fala sobre diversas coisas, mas tem como atividade básica essas técnicas orientais de concentração [inclusive motora], tais como Yoga e Tai-Chi. Desde então, carregava comigo a palavra CONURBAÇÃO na cabeça, tendo esquecido seu significado. Sabia que existia, coisas de ato-falho inconsciente. Eu preciso de uma atividade destas anti-stress, já que sou um ser descontrolado-desprovido-de-paciência-mental. Mancebo simpático que me atendeu; não era mancebo, posto que avalio sua idade entre os trinta e quarenta anos, mas não hesito em assim chamá-lo por prover meu leitor de uma nova palavra que lhe cairá bem em sua lista alfabética.
Logo depois fui ao metrô, visando escapar um pouco do calor tremendo que faz um dia nublado no Rio de Janeiro [pois sim, há dias nublados e abafados]. Choveria em breve. Porém, creio que nem fiz cálculos de quando o céu poderia trepidar um rajado de trovão, ou quando lançaria mão de gotas espessas e expressivas, ou finamente delicadas. Desci e comprei o passe do trem subterrâneo. Sempre me acomodei a este transporte por ser mais silencioso [dependendo da linha e do horário] e bem mais fresco [idem]. Para minha surpresa, uma menina entrou com um senhor de voz rude. Era tão sonora e avessa, que ouvia-se por qualquer um que estivesse no mesmo vagão. o partir o trem, andávamos na contra-direção, seguindo rumo a Estácio. Ela lançou, dispersa:
- Ih, estamos andando pra trás - alguns risos encabulados podiam ser ouvidos - se andarmos pra trás nós não vamos chegar nunca. Temos que andar pra frente.
O homem que com ela estava sorriu junto com os demais. E eu, tão entretido em meu livro, não pude deixar de escapar de tal coadunação. Não saberia narrar a menina. Diria apenas que era mulata e que, se lhe tirassem as presilhas rosas, obviamente passaria por mim como um menino que silva proposições pueris e atina conclusões precipitadas, como é digno de uma criança normal de tal idade [salve observações de Piaget]. Ao final da estação levantamos para a baldeação. Achava estranho que o senhor carregasse consigo muletas. Era cego. Apenas um olhar de viés para observar que a carregava como guia de sua percepção invisível do mundo aos olhos. Seria desde quando, desprovido de visão? Achei melhor não me perguntar mais. E não me perguntei. Mesmo assim, continuava com a palavra CONURBAÇÃO [que significaria, afinal?].
Fui seguindo sentado ao chão e, inusualmente, dispus a não olhar os pés das pessoas, como é de costume meu fazer [dedicarei um capítulo deste suntuoso blog a isto, um dia] em situações normais. Estava ainda lendo. Era Machado. Dom Casmurro. Terminei no metrô mesmo [mais tarde um post sobre este também]. Chovia lá fora. E que a palavra não me fugia era verdade. Por breves momentos, se fez esquecida, jogada de lado. E aqui, lembrada agora pude ver. Trata-se de aglomeração formada por uma cidade e suas cidades satélites. Agora por que isto me veio no dado momento é que continua sem resposta. Como a maioria das perguntas que fiz e ainda hei de fazer.